tag:blogger.com,1999:blog-29180260371927222462024-02-07T12:14:00.590-08:00chaga perfumadaRIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.comBlogger154125tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-37011001626225366902023-12-04T12:20:00.000-08:002023-12-04T12:20:44.049-08:0059 segundos<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">As horas estão
quase paradas agora.</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">O sempre célere
ponteiro que marca os minutos,<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">de repente
entristeceu.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Resolveu que o
tempo marcharia lentamente.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">As sinuosas
curvas das estradas me põem em alerta.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">As janelas
semicerradas da vizinhança, <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">deixam-me
desconfiado.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">As horas estão
quase parando.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Hoje não consigo
ler, não consigo escrever,<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">não consigo sentir.
Acho que não consigo nada,<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">tampouco reagir.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">E aquelas
fugidias horas dos momentos de êxtase,<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">as horas já estão
quase parando agora.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">O medo de ser tripudiado,<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">faz-me preferir o
isolamento, o ermo, o canto...<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">De repente me
pego remexendo no baú das saudades...<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Há coisas boas e
tristes:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">brinquedos,
máscaras, adjetivos, carinhos;<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>desdém, calculadoras, objetivos;<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">altivez, soberba,
barcos de papel. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">E há um relógio.
Um apenas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Marcando as horas
da vida.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">O passado. O
subjuntivo. O longe presente...<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Ontem, eu quis
cultivar bons sentimentos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Outrora, se eu
soubesse, teria regado melhor as amizades.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Agora eu findo a
dor apertando o botão <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desligar</i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">E se não (me) desligar<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">Eu vou é o maquinário todo quebrar</p>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-89051972128702844392023-11-10T13:26:00.003-08:002023-11-10T13:26:25.015-08:00Finais<div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Finais nunca são fáceis<br />mesmo que se diga por aí <br />que são iguais aos inícios<br />no epílogo, há sempre uma chama se apagando</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br />Começos e fins têm em comum<br />o fato de serem processos, <br />transcursos durante travessias<br />de estados - do antes e do depois - diferentes</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br />Algumas vezes, porém, os finais <br />podem parecer vivos, emocionantes, <br />um passo antes de um recomeço, <br />seja qual tipo ele for, </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">um possível recomeço</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br />Mas para mim não foi fácil<br />as pessoas sempre me dizendo<br />do que eu gosto, do que eu preciso<br />o que eu quero, o que eu sou <br /><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Durante toda minha vida foi assim <br />e assim, sem ao menos pensar,<br />eu fui me tornando <br />- e só agora eu sei disso - <br />um alguém diferente</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"> <br />Mas agora estou em um novo final<br />pelo menos é o que pensam<br />mas esse é realmente o fim<br />é o despertar de minha consciência<br />de que só existe um de mim.<br /><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">-------------------------------------------------- Itumbiara, GO - 09/11/2023</span></div>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-32810867834731451002023-10-24T12:13:00.003-07:002023-11-10T13:11:13.019-08:00Yags na ferveção interiorana<p>Naquele quente mês de julho de 2021, eu e a bicharada - minha turma paulistana de yags - resolvemos ir naquela famosa festa em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.</p><p>"Maldita a hora que decimos embarcar nessa canoa furada", eu pensava. Chegamos lá e fomos direto para o hotel. Todo mundo chegou deixando as coisas e já se aprontando pra ir nessa rave LGBT. O Pedro, a Barbie da turma, pois era a única viciada em academia, toda sarada e, também, com um gosto peculiar por apenas bichas padrão, logo vestiu uma camisetinha justíssima - mais justa que Deus - e estava pronta.</p><p>Da turma dos ursos, Luís e Henrique, duas Bills muito ligadas por fazerem parte do grupo dos bears, vestiram roupas comuns e estavam prontas, também. </p><p>Enfim, nessa gaiola das loucas de umas dez pessoas vindas de São Paulo, que chamamos de caravana - o único atrasado era o Leandro, que se faz de Bobby, aquele tipo de gay que só usa o vocabulário no masculino, evita usar o pajubá e, ainda, poda quaisquer trejeitos ditos de "pessoa afeminada" - como se isso fosse possível. <i>Whatever</i>, ele ficou mais de uma hora pra se arrumar e como ninguém se importa com com bichas quarentonas, já vividas e que fingem não serem gays, Leandro foi deixado pra trás e pegou um Uber para ir ao evento, que era fora da cidade, em uma chácara. A gente ficou rindo da época que falávamos, "ele vai de Angélica", quando não existia Uber e se podia usar apenas táxi.</p><p>Bom, chegando lá, estávamos na fila e uma Aurora forte pairava no ar. Um cheiro que misturava putrefação e enxofre. Hipérboles à partes, fazia uns 35ºC naquela tarde e muito gay motado, não tem como não transpirar em excesso. Mas a Aurora passou depois de uns bons drinks. Meu olfato se perdeu com o álcool.</p><p>Depois de entrarmos na festa, Pedro, Luis, Henrique, Leandro, Marcelo, Taylon, Martine não binárie, Lucas, Celso e eu, Rafael, nos dispersamos. Por uma hora não nos encontramos. Mas, logo depois de cada um dar uma caçada básica, nos reunimos e comentamos a festa. Primeiro, destacamos a Cecília que tava nas filas do bar e dos banheiros. Gente, esse pessoal não sabe que é bom passar desodorante para evitar o cecê? Luís, o mais cacura do grupo recomenda o uso de Leite de Rosas para prevenir a Cecília. Diz que é tiro e queda.</p><p>O Taylon, que já tinha fama de dar a Elza em todo mundo, tanto roubando os boys das amigas - a gente a chama de "talaricha", uma mistura de talarico e bicha - fez a Winona e já "guardou" na bolsa uma garrafa de Gin do evento. A gente conhece a Bill, ela leva embora, mesmo" E assim mantém o barzinho de casa cheio de garrafas cheias de bebida.</p><p>Quem também sempre leva uma recordaçãozinha dos lugares, ou seja, furta copos, talheres, xícaras e o que encontrar pelo caminho - e já deve ter um jogo de jantar completo em casa de tanto fazer a Aidé - é a Martine. Aliás, falando em Martine, de repente, antes do fim de nosso encontrão pra fofocar sobre a festa, ela tomou chá de sumiço e mais tarde ela disse que a Nena tava na porta! Hahahahahahaha! Que horror! Isso mesmo, a não binárie, que é toda "fina, elegante e sincera", toda recatada, correu para o banheiro fazer o número 2. Depois voltou pleníssima ou pleníssime. Sei lá.</p><p>Depois de horas, muitos drinks, muitos beijos na boca, muita música eletrônica, uns da festa usando padê ou Paulo Otávio, que é pó, outros, bala ou Michael Douglas (MD), que eu não sei a diferença, e alguns limpos, curtiam a fritação da pista de dança ao centro do evento. Eu estava fazendo a Heleninha Roitman na festa, virando drinks e mais drinks. O Celso gritava "toca um mambo caliente DJ". Hahahahahahaha! E a gente tava assim mesmo, meio que numa Vale Tudo.</p><p>A única Neusa da turma, o Lucas, com seu jeitinho todo faceiro, logo estava com outra Neusa. A gente sempre vê que Lucas adora uma japoneusa como ele. Deve ser um fetiche ou narcisismo, mesmo.</p><p>Enfim, a festa bombando, cada um com sua loucura, a gente até que se divertiu muito, levando-se em conta que tinha muito agrogay por lá, típico do interior de SP. E o Leandro, lembram dele?, a nossa Barbie musculosa? Bem, ele sumiu depois de nosso primeiro encontro e nos contou mais tarde que sumiu também da festa. Imaginem, foi o último a chegar e o primeiro a ir embora. Não exatamente ir embora porque saiu da festa porque arrumou um Jorge, um Daddy muito gato, e foi para a casa dele. Além de Barbie, a gente chama o Leandro de Ivone, porque ele é PAM, Passivo Até a Morte, ou, como dizem no pajubá, uma passivone de carteirinha.</p><p>Nessa questão de ficar com alguém, o Taylon é conhecido na turma por ser Parmalat e, quando viu um gay maravilhoso com a neca odara marcando a calça, logo se jogou. Nunca soubemos se ele realmente conseguiu fazer um sexo oral naquele Billú - que tinha cara de rico, mas que o pessoal local nos alertou que aquilo era truque. Taylon é discreto com o detalhamento de suas peripécias, portanto, não saberemos o que houve, jamais.</p><p>Enfim, o resumo da ópera foi, para uma tarde de sábado, em uma pool party no interior de SP, fazendo 35ºC, até que nos divertimos muito. Óbvio que essa narrativa não seria tão positiva se fosse contada pelo Henrique, porque ela é Mafalda e, dada sua idade avançada, não acompanha mais o nosso ritmo frenético. Ele se cansa rápido, embora seja uma cacura que todos amam.</p><p>E eu, já pra lá de Bagdá de tanto misturar caipirinha, gin tônica e aperol, fiz a Zoraide antes de sairmos de São Paulo para esse evento: "essa festa vai ser chata! Vai seu um porre". Bingo! Aconteceu o inverso e, portanto, errei todas as minhas previsões. Vou aposentar meu lado Zoraide porque eu sempre erro tudo quando bandeio pro lado místico das coisas.</p><p>Entre pocs, quá quá quás, Barbies, Irenes, cacuracaias, Katias, Bills, bibas, bis, Bobbies, Daddies, agrogays, Elzas e Alices, salvaram-se todos. O Celso, coitado, o mais empolgado para esse rolê tão longe de São Paulo, foi cedinho dormir no carro. Eu fiz a Kátia cega e fingi que não vi, afinal, não dá pra esperar de um rolê com 10 gueis, que todos se divirtam plenamente. Talvez a diversão dele tenha sido essa, organizar tudo e repor o sono atrasado.</p><p>Amamos a festa! </p><p><br /></p><p>30-07-2021, Ribeirão Preto (SP)</p><p><br /></p><p> </p>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-555409796613951622023-08-27T09:06:00.006-07:002023-12-04T12:26:19.671-08:00Narciso no labirinto dos espelhos<div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">tudo o que eu falava e dizia</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">parecia-me, </span><span style="font-family: arial;">salvo engano</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">se centralizar em mim</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">no meu dia</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">nos meus traumas</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">em meu ego</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e eu nunca soube de onde isso veio</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">porque, </span><span style="font-family: arial;">sinceramente, </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">me desnudando aqui nesse poema</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">sempre soube que eu tive </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">uma estranha e desproporcional</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">baixa autoestima</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">seria esse caminhar ao lado de Narciso</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">um mecanismo de proteção?</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">A corda que me segurava para que eu</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">não me jogasse do precipício?</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">O cordão umbilical, nunca cortado de verdade,</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">que em meus pensamentos como de Édipo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">me mantinha vivo?</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">pequeno, ainda, lembro de sonhar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">em conhecer Paris</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">um dia deu certo, e eu já não queria mais aquilo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mais tarde, mas ainda jovem, pedi a Deus</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">ao soprar a vela do meu bolo de aniversário</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">que minha mãe vivesse muitíssimo </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">até </span><span style="font-family: arial;">que eu também fosse idoso</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">hoje estamos distantes, vivos e ausentes</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mergulhados em silêncios perturbadores</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">dadas as feridas que cada palavra cortante dela</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">machucou meu corpo e minha alma</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e certa vez, numa conversa com amigos,</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">sobre desejos e sonhos,</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">eu disse que gostaria de ter um conhecimento enciclopédico</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e mal saberia que o saber e o conhecer são</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">sem dúvida alguma, </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">os maiores fardos </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">que uma pessoa sensível pode carregar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">eis que hoje, nada disso importa mais</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">a personagem de Guimarães Rosa, Moimeichego</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">não habita mais minha pele e meus ossos</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">foram anos e anos de terapia</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">buscando, tentando (será que obtive êxito?), matando</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">o Narciso que vivia em mim</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e que achava feio o que não era espelho</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">um dia, depois de muitos anos</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">estava preso em um labirinto de espelhos</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">como naqueles labirintos de parques de diversão</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">você se vê por tudo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">é, ao mesmo tempo, todos e nenhum</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">está rodeado de seus "eus" e, de fato, está sozinho</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">imaginem-me me vendo deformado em diversas dimensões</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">tudo era eu, em diferentes formas e proporções</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e tudo me machucava</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">porque aquele não era o eu que eu construí</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">era o eu que a vida me via</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">torto, oblíquo, dissimulado</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">egoísta, vil, deformado, desalmado, </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">sem nenhuma autocomplacência</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">eu talvez estivesse tendo consciência, </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">naquele lugar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">que era um narcisista inveterado...</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e que precisava sair daquele lugar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">doeu</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">os espelhos me refletiram</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e eu refleti</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e foi um ponto de mutação</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">hoje eu ouço mais o outro, os outros</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">hoje não penso que tenho todas as respostas</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">nem todos os exemplos</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">hoje, os sentimentos alheios me ensinam muito mais</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">do que aqueles que eu achava ter e dominar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">não acho mais todas as coisas feias</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">todas as ruas irregulares, as casas todas mal pintadas,</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">não acho mais ruins os filmes de comédia-romântica</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">meu sem eu</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">da ilha isolada, mudei pra muitas multidões</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">encontro luz e prazer no que os outros tocam</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">pintam, produzem, cantam, escrevem, evocam</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Narciso esteve preso num labirinto de espelhos</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e lá ele ficou preso eternamente</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">quem saiu foi um outro eu</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">saiu um ser humano, pleno de falhas</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">pleno de sonhos irrealizáveis</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">pleno</span></div><div style="text-align: left;">--------------------------------------------------------</div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Ariranha, SP 17-08-2023 13h06</span></div>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-66567186341818007142023-08-27T06:54:00.002-07:002023-08-27T08:38:59.937-07:00rascunho<p>eu abri um espaço em branco</p><p>como antigamente fazíamos com folhas de papel </p><p>sem nada</p><p>escrito</p><p>desenhado</p><p>sem manchas</p><p><br /></p><p>agora é mais fácil errar e apagar</p><p>excluir, para sempre</p><p>enviar para a nuvem</p><p>ser nada</p><p>e ser esquecido</p><p>nós viramos rascunhos de nós mesmos</p><p><br /></p><p>27-08-2023</p>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-49964383850193935002023-08-27T06:33:00.003-07:002023-08-27T06:37:08.058-07:00o vazio<p>há algumas semanas eu resolvi </p><p>erguer a bandeira branca</p><p>e para isso, precisei optar</p><p>em tentar ser claro</p><p>a continuar a falar</p><p>buscar sentidos,</p><p>atribuir significados</p><p>ou silenciar</p><p>e silenciei</p><p><br /></p><p>os dias e as noites têm sido mais duros</p><p>pois eu já vivia num silêncio e num vazio imensuráveis</p><p>sem muito afeto</p><p>sem muito sentimento</p><p>um vazio infinito</p><p>mas agora as coisas pioraram</p><p><br /></p><p>não há mais beijos de boa noite</p><p>não há brigas sobre coisas banais</p><p>não reclamo sobre</p><p>tudo estar sempre a todo tempo fora do lugar</p><p>nem das palavras que me depreciavam</p><p>e que não doía em que as proferia</p><p>há um vazio enorme</p><p><br /></p><p>as palavras quando deixam de serem ditas</p><p>dão lugar a um silêncio rude e doloroso</p><p>não ouço orações</p><p>não elogio o perfume do almoço</p><p>não ouço mais o "vai com Deus"</p><p>e assim vou levando</p><p>eu, em pensamento, ouço minha mente pedir</p><p>é hora de partir</p><p>mas partir de onde e para onde?</p><p>o corpo que minha mente habita continuará sendo o mesmo</p><p><br /></p><p>o vazio ideal seria mesmo a morte</p><p>a morte do corpo, da voz, da presença, do sentido criado para uma vida</p><p>que nada mais foi do que negação</p><p>sem amor, sem prazeres, ainda que fugidios</p><p>sem amizades, sem verdade, sem conquistas</p><p>a morte do corpo liberaria espaço para que a vida dos outros</p><p>seguisse mais depressa</p><p><br /></p><p>Ariranha, SP, 27/08/2023 - 10h33</p>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-21665879540234177152023-01-09T11:35:00.001-08:002023-01-09T11:35:30.895-08:00chove<p> lá fora chove </p><p>sem parar há semanas</p><p>à minha</p><p>vamos criando e recriando </p><p>apenas o hábito de termos a nossa casa</p><p>para ser, estar, permanecer, continuar</p><p><br /></p><p>não lá ligações que resistam à distância</p><p>do tempo, da geografia,</p><p>as horas perdidas</p><p>e a chuva vem para isso</p><p>nos prender em casa</p><p>e nos propor à autorreflexão</p><p>se todos fazem isso?</p><p>não, creio que não</p><p><br /></p><p>eu faço porque preciso escrever poemas</p><p>e me perder nas escolhas das palavras</p><p>e me construir na sintaxe dos versos</p><p>e me esconder nas mentiras dos poetas</p><p><br /></p><p>Ariranha 09/01/2023</p>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-18364011741856968312023-01-09T11:31:00.005-08:002023-08-27T06:40:54.804-07:00versos<div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">para escrever um bom poema<br />penso em escolher bons versos</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mas não encontro a forma adequada</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">minhas rimas são inadequadas</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">minha métrica, imprecisa</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">o tempo, o inverso, </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e não chego lá</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">será que meu lado perverso</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">inspiraria um bom poema?</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mas não, não adianta</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mesmo tendo um universo de palavras</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">elas são como peças de um quebra-cabeças</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">que se encaixam mas que não formam</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">imagem alguma </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">o que eu busco é algo diverso</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mas está difícil pensar em quê</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">tudo é controverso</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">meus temas</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">minha inspiração</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">tudo é demasiado transverso</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">atravessam-me </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">todos os sentimentos do mundo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">vou ficando por aqui, então</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e pensando que não bastam palavras</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">um amplo recorte do léxico</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">o que é preciso são os sentimentos</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mas hoje não é neles que estou submerso</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Ariranha 09/10/2023 </span></div>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-18353620604748387202023-01-09T11:24:00.004-08:002023-01-09T11:31:55.297-08:00Um sábado<div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">O dia parece sem fim</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Tento me ocupar com leitura</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mas nada me prender</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">10 ou 15 minutos depois</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">minha mente já está longe</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">sem nada a ver com as personagens</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">vou pra outra cidade</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">nada é do meu gosto e </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">tudo parece caro demais</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">à noite saio com amigos</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">alguns lugares estão lotados</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">outros, vazios</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">todos caros</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">nada de novo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">embriago-me com álcool e ira</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">deixo o pessoal em casa</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e esqueço desse dia banal</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Ariranha 07/01/2023</span></div>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-53630633189561346602023-01-06T15:25:00.004-08:002023-01-06T15:25:41.789-08:00um dia banal<div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Entardeceu na minha cidade,</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">nem saí de casa durante o dia para descansar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mas sinto alívio que tenho as noites livres</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">o curso que frequentava acabou no ano passado</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Vou até um bar perto de casa </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">sentar sozinho e continuar a pensar sozinho</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">faz mais de 30ºC</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">ainda não é noite</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">peço uma cerveja e tento me refrescar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Penso no meme</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">sair sozinho é solidão ou liberdade?</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">a resposta não é precisa</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">há dias de liberdade</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">de amar a companhia de si mesmo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">há dias que tamanha liberdade incomoda</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">onde estão as mensagem me cobrando sobre o tempo?</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">há dias de solidão</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">em geral, não é quando estou sozinho</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mas quando estou acompanhado</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e essa, meu amigo, essa machuca bastante</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">solitude</span></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Ariranha (SP) - 06/01/2023</div>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-52193163154448579212023-01-06T15:20:00.004-08:002023-08-27T06:43:32.750-07:00chegando em casa<div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">as luzes da cidade começam a aparecer<br /></span><span style="font-family: arial;">na escuridão da estrada<br /></span><span style="font-family: arial;">minto!<br /></span><span style="font-family: arial;">o brilho das luzes da cidade<br /></span><span style="font-family: arial;">começa a se separar do das estrelas do céu<br /></span><span style="font-family: arial;">eu dirigindo vejo os postes <br /></span><span style="font-family: arial;">romperem aquela cerração</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">foram tantas as vezes em que repeti esse caminho</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">que nem sei mais de onde vim</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">ou para onde estou indo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">só vejo a frieza da cidade</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">ninguém na rua pra me julgar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">agora as luzes da cidade me cegam de tão fortes</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e o silêncio me deixa sem direção</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">chegando perto de casa</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">sinto minha ligação com aquela terra</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">penso em tirar logo os sapatos</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">pisar o chão, descalço</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">tirar a roupa e</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">dormir, porque você já me deixou faz alguns anos</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mas de vez em quando reaparece</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">em minhas lembranças</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Arranha 05/01/2023 - em casa</span></div><p><br /></p>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-67239481974829808332023-01-06T15:13:00.007-08:002023-01-06T15:13:52.111-08:00distâncias<div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Andava sem pensar em ninguém </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">já fazia muito tempo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Estive fora dessa estrada</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">pensando que a viagem é longa demais</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">pra parar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">pra chorar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">pra descansar</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">o melhor é seguir continuando</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e tentando</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">aproveitar a vida, </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">nesse meio tempo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Há anos que viajo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">conheço as curvas</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">os postos de gasolina</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">que servem o melhor café</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">o aqueles onde param as melhores pessoas</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">mas no fundo sei que estou sozinho</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e acho melhor é seguir em frente</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e tentando</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">saborear a vida</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">nesse meio tempo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Flerto com a morte</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">porque no carro</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">ouço, às vezes, músicas tristes</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">sobre a solidão da vida para alguns</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">às vezes choro,</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">às vezes penso no metafísico</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e que talvez eu tenha isso mesmo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">tenha que seguir essa estrada da vida</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">tentando e conseguindo vencer</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">e aproveitando-a</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">nesse meio tempo</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Ariranha (SP) - 04/01/2023 - pensamentos distantes</span></div><p><br /></p>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-76009543823439323852023-01-03T08:54:00.002-08:002023-08-27T06:45:53.311-07:00dias interrompidos, uma terça-feira qualquer<p>a noite mal dormida</p><p>os pesadelos que interrompem o sono</p><p>a manhã cinzenta</p><p>daquela semana dos janeiros</p><p>quando chove por dias e dias sem parar</p><p><br /></p><p>o calor insuportável nas tardes de verão</p><p>dias super ensolarados que escondem </p><p>as sombras que cobrem os pensamentos</p><p><br /></p><p>não, não é fácil flertar com a morte</p><p>em um lugar tão solar</p><p>porque estranhamente as pessoas, em geral</p><p>estão transbordando felicidade</p><p>libido, sonhos, querências</p><p>e é só dia três de janeiro, hoje</p><p><br /></p><p>mas nem todos se reconectam com essa vibração</p><p>de que são férias</p><p>de que é verão</p><p>pra entender que as coisas não estão tão boas </p><p>quanto se vende por aí</p><p><br /></p><p>eu sofro sozinho no meu canto, claro</p><p>o dilema do porco-espinho</p><p>os mais próximos se ferem</p><p>dos mais distantes, só se vê o que mostram</p><p>as redes sociais e suas felicidades infinitas</p><p><br /></p><p>hoje já choveu pesado</p><p>já escureceu o céu como um dia de inverno em Bruxelas</p><p>o sol está por tudo novamente</p><p>e eu só quero e preciso dormir </p><p><br /></p><p>À bientôt</p><p><br /></p><p>03/01/2023 - em qualquer lugar</p><p><br /></p>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-77507794087802907232023-01-02T11:03:00.003-08:002023-08-27T06:49:05.164-07:00a todos os poetas mortosa certa altura da vida<div>a gente começa a ser ver no espelho</div><div>e a se enxergar de forma diferente</div><div>e é rápida essa mudança de olhar</div><div><br /></div><div>desse viés</div><div>vemos rugas,</div><div>algumas manchas</div><div>as marcas do tempo, no presente</div><div>e tudo parecia tão perene</div><div>mas o viço, eu não sei quando</div><div>ele se perdeu</div><div>como se perdem coisas banais</div><div><br /></div><div>e é assim com quase tudo</div><div>tudo o que depende da aparência</div><div>se esvai, se transforma</div><div>as propagandas na TV parecem datadas</div><div>as músicas que mais estão tocando</div><div>já são releituras das releituras das releituras</div><div>das originais, </div><div>se é que existem originais</div><div><br /></div><div>as fachadas dos comércios</div><div>são remodeladas</div><div>do neon dos anos 80</div><div>para o tudo, em todo lugar, ao mesmo tempo</div><div>e agora</div><div>tudo agora é de plástico e descartável</div><div><br /></div><div>e não há problema algum nisso</div><div>mas a questão é</div><div>qual a velocidade de nossa percepção</div><div>para acompanharmos</div><div>o meio, o fim, o início</div><div>dessas coisas todas?</div><div><br /></div><div>e nisso entraram também as relações</div><div>o afeto, demonstrado publicamente </div><div>em redes sociais</div><div>na vida privada é tímido ou fake</div><div><br /></div><div>o desejo no mundo real</div><div>deu lugar à idealização das formas</div><div>do corpo, da voz, </div><div>pela homogeneização do prazer </div><div>dos rostos, das posições, </div><div>das falas e fetiches</div><div><br /></div><div>enfim</div><div>só encontro algo mais lento quando leio poemas</div><div>a Cora falando do tempo que é preciso para preparar o doce</div><div>o Drummond registrando o tempo passar</div><div>eu, pensando, no tempo que resta</div><div>e até na concretude dos poemas concretos</div><div>sinto vontade de beber coca cola</div><div>ao ler o imperativo verso</div><div>beba coca cola</div><div><br /></div><div>na Poesia a gente não chega a tanta liquidez</div><div>a cada vez que leio o mesmo poema</div><div>entendo uma coisa</div><div>sinto outra</div><div>me encontro nele</div><div>me aproprio dele</div><div>ele me encapsula e me faz adormecer</div><div><br /></div><div>a cada vez que leio o mesmo poema</div><div>sinto e ressinto</div><div>todos os sentimentos do mundo</div><div>e me sinto vivo</div><div><br /></div><div>Ariranha (SP) - 02/01/2023 - aqui</div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-44989441597139401802023-01-01T06:24:00.004-08:002023-08-27T06:50:49.053-07:00trinta e um dias antes do alvorecer<p><span style="font-family: arial;">é diferente para cada pessoa</span></p><p><span style="font-family: arial;">mas uma hora acontece</span></p><p><span style="font-family: arial;">de se perceber que tudo é </span></p><p><span style="font-family: arial;">uma sucessão de processos</span></p><p><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p><span style="font-family: arial;">até o nascimento, o gerar</span></p><p><span style="font-family: arial;">no instante da morte, o morrer</span></p><p><span style="font-family: arial;">no fim da primeira paixão,</span></p><p><span style="font-family: arial;">dias, semanas, até meses de entardecer</span></p><p><span style="font-family: arial;">na mais profunda solidão</span></p><p><span style="font-family: arial;">até se chegar a algum sossego </span></p><p><span style="font-family: arial;">um novo alvorecer</span></p><p><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p><span style="font-family: arial;">é intermitente ou contínuo</span></p><p><span style="font-family: arial;">mas acontece para todas as pessoas</span></p><p><span style="font-family: arial;">de se perceber que tudo é </span></p><p><span style="font-family: arial;">uma congregação de processos</span></p><p><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p><span style="font-family: arial;">a juventude, uma enxurrada de idealizações</span></p><p><span style="font-family: arial;">a vida adulta, oceanos de frustrações</span></p><p><span style="font-family: arial;">a faculdade </span></p><p><span style="font-family: arial;"> [quatro, cinco ou seis anos </span></p><p><span style="font-family: arial;">de downloads de informações</span></p><p><span style="font-family: arial;">ora convergentes, ora opostas, </span></p><p><span style="font-family: arial;">na maioria das vezes, </span></p><p><span style="font-family: arial;">questões sem respostas</span></p><p><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p><span style="font-family: arial;">delimitar-se uma mudança</span></p><p><span style="font-family: arial;">num dia preciso</span></p><p><span style="font-family: arial;">numa data específica</span></p><p><span style="font-family: arial;">numa promessa, numa ação, </span></p><p><span style="font-family: arial;">num único segundo</span></p><p><span style="font-family: arial;">talvez seja excessivamente frágil</span></p><p><span style="font-family: arial;">as coisas parecem mais fatias de tempo</span></p><p><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p><span style="font-family: arial;">do início da vida</span></p><p><span style="font-family: arial;">à morte de estrelas</span></p><p><span style="font-family: arial;">tudo demora mais do que se pode mensurar</span></p><p><span style="font-family: arial;">então, é bom mesmo</span></p><p><span style="font-family: arial;">entender que os processos terminam </span></p><p><span style="font-family: arial;">começam, recomeçam, confrontam-se</span></p><p><span style="font-family: arial;">mas é deles que se tira algum sentido para o viver</span></p><p><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p><span style="font-family: arial;">já é madrugada,</span></p><p><span style="font-family: arial;">em algumas horas,</span></p><p><span style="font-family: arial;">o novo alvorecer</span></p><p><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p><span style="font-family: arial;">01/01/2021 - Ariranha (SP) - Brasil</span></p>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-4114960435438405802022-10-18T13:31:00.003-07:002023-01-01T06:31:49.728-08:00adeus a Narciso<span style="font-family: arial;">olhei para trás</span><div><span style="font-family: arial;">e finalmente pude enxergar </span></div><div><span style="font-family: arial;">nunca fui eu</span></div><div><span style="font-family: arial;">aquele personagem a vagar</span></div><div><span style="font-family: arial;">que por tanto tempo interpretei</span></div><div><span style="font-family: arial;">ventríloquo desengonçado </span></div><div><span style="font-family: arial;">despossado no primeiro andar </span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">escondi-me de todos</span></div><div><span style="font-family: arial;">sob colchas-de-retalhos</span></div><div><span style="font-family: arial;">que encobriam meus olhos</span></div><div><span style="font-family: arial;">sem nunca esconder meus pés</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">ah, como eu era tolo!</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">não sei em que ponto ao certo</span></div><div><span style="font-family: arial;">passei a me vigiar</span></div><div><span style="font-family: arial;">me podar</span></div><div><span style="font-family: arial;">me idealizar</span></div><div><span style="font-family: arial;">e continuar a viver</span></div><div><span style="font-family: arial;">e ver Narciso</span></div><div><span style="font-family: arial;">como se ele também eu fosse</span></div><div><span style="font-family: arial;">Tolice!</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">nos cômodos escuros </span></div><div><span style="font-family: arial;">as janelas semicerradas</span></div><div><span style="font-family: arial;">mantinham a penumbra</span></div><div><span style="font-family: arial;">e a delimitação imperfeita</span></div><div><span style="font-family: arial;">e meus incômodos permaneciam ocultos</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">mas era tudo mentira</span></div><div><span style="font-family: arial;">agora eu vejo e sinto</span></div><div><span style="font-family: arial;">já que as portas, janelas, telhados </span></div><div><span style="font-family: arial;">foram arrancados</span></div><div><span style="font-family: arial;">há luz e imperfeição por tudo</span></div><div><span style="font-family: arial;">a pele e a carne parecem inundadas</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">mas ao mesmo tempo, </span></div><div><span style="font-family: arial;">eu me sinto livre</span></div><div><span style="font-family: arial;">plenamente capaz agora</span></div><div><span style="font-family: arial;">de viver</span></div><div><span style="font-family: arial;">sem a tristeza de outra época</span></div><div><span style="font-family: arial;">imperfeita, feia, meia</span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">ah, como eu era tolo </span></div><div><br /></div><div>18/10/2022 - 17h30</div>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-35462645018634567132021-02-16T11:14:00.003-08:002021-02-16T11:14:50.757-08:005 - ausênciaSei que isso é um clichê para quem faz análise, mas tudo bem: nas sessões de terapias é que podemos nos ouvir e perceber se estamos ou não em um momento coerente da vida. Há dias em que as sessões são embaraçosas e embaraçadas. Noutros, codificamos os pensamentos em frases e textos tão coerentes e coesos que nos sentimos donos de nós mesmos. Aviso aos marinheiros de primeira viagem, quem se aventura pelo autoconhecimento, dificilmente vai achar um destino. Os sentimentos vão nascendo, morrendo, se reconectando, re-significando-se de tal maneira que de todas as sessões saímos com mais conhecimento, porém, nem sempre conscientes das lacunas que existem em nós. Eu, por exemplo, tenho lacunas que são pilares de minha personalidade e não precisam ser preenchidas. Por outro lado, há espaços cheios que precisam ter seu conteúdo mudado ou transformado: autossabotagem, preconceitos, idealizações, padrões etc. Vale a pena? Sim, desde que tudo que for dito seja verdade, senão é perda de tempo.<div><br /></div><div>Ariranha - SP, 16/02/2021. </div>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-381728437170990312021-02-15T13:07:00.003-08:002021-02-16T11:07:00.518-08:004<p>Às vezes, ocorrem em nossas vidas, dias ou tempos vazios. São períodos em que não desejamos nada de forma vigorosa, são tempos suspensos no ar e soltos, sem destino. Estou vivendo esses instantes, que não sei se vão durar vinte e quatro horas, uma semana, um mês ou mais do que isso. A sensação é desgostosa e amarga. Se for produtiva, um dia poderá virar verso, texto, livro, frase de lápide. Se não aproveitada, latifúndio improdutivo à espera de pensamentos mais obscuros. Hoje o dia foi assim: o café esquecível, a caminhada para manter a saúde esquecível também, os reparos em coisinhas desajustadas esquecíveis, o entardecer, idem. Enfim, deve haver algo de recompensador nisso: impossível existir algo totalmente irrelevante na vida que só tenha um lado, o negativo. Talvez seja a presença quieta de quem mais amo, talvez seja o tempo fresco, talvez seja a sensação de que algo vai melhorar - um lampejo de realismo esperançoso - talvez seja apenas isso, a capacidade de codificar - e eternizar - o nada, em algumas linhas.</p><p><br /></p><p>Ariranha - SP, 15/02/2021 - ainda na pandemia. </p>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-1856384250981291522021-01-16T09:42:00.001-08:002021-01-16T09:42:17.466-08:00crise<p> transito entre dois opostos</p><p>me sinto perseguido</p><p>tenho medo da estrada</p><p>minha mãe</p><p>a qualquer momento morrerá</p><p>e eu, </p><p>eu estarei bem longe dela</p><p>a cidade,</p><p>me mastiga e cospe, sem critérios</p><p>nunca pensei antes </p><p>que aos quarenta haveria tantos mistérios</p><p>a inveja se tornou um vírus</p><p>me veem como forte</p><p>dizem que sou inteligente a toda hora</p><p>uma muralha resistente</p><p>a água que se adapta a qualquer caminho</p><p>e eu,</p><p>me sinto desamparado</p><p>sozinho, olhando para uma cidade inteira</p><p>de cegos cheios de idealizações</p><p>eu não posso mais</p><p>eu não consigo mais</p><p><br /></p><p>16/01/2021 - aqui</p>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-57456609521734684032020-08-06T05:10:00.003-07:002020-08-06T05:10:23.047-07:00desamparoAforismos se tornaram uma boa forma de me mostrar. São uma compactação de um dia, de um mês ou de um tema... Agora queria escrever sobre o desamparo que sinto. Em algum momento esqueceram que sou filho (aliás, o caçula). Em algum momento, desenterrar minhas características mais dolorosas, dos tempos em que sofria bullying na escola, seria naturalizado e eu seria julgado chato "por ressentir dor e não ter espírito esportivo" contra os estiletes que em outros tempos cortavam minha alma. Será mesmo que como diz minha mãe, ninguém gosta de mim e todos se aproximam apenas por interesse? Será mesmo que não tenho carisma nem brilho? Será mesmo que fracassei em tudo? Talvez seja tudo verdade. Talvez os ansiolíticos e indutores de sono sejam um pedido de socorro. Talvez um dia, ironicamente, eu acorde morto. Eu ria sempre dessa expressão "acordar morto", mas hoje ela tem outra simbologia: seria algo entre deitar e dormir numa rotina que parecia eterna e despertar em algo totalmente novo. Sinto-me desamparado: o filho caçula que já fui enterrado quando meu pai for sepultado. A persona de alguém forte, inteligente, destemido, inquebrável e insensível se fixou tão fortemente em mim que eu me perdi. Vivo um falso-self que me não traz nada além de uma solidão profunda. <div><br /></div><div>Ariranha (SP)</div><div>06/08/2020</div><div>09h10</div>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-78701697759324849632020-08-02T04:27:00.003-07:002020-08-06T05:01:49.220-07:00agosto<font face="arial">Hoje é o primeiro domingo de agosto e os ventos tão comuns nessa época, nem começaram a soprar. São duas horas da madrugada e apenas penso "bem-vinda, insônia". E meus pensamentos já se ramificam: eu estou acordado, o silêncio da madrugada e da cidade contrastam com o barulho ensurdecedor de minha mente. Minha cama está vazia. Idealizo que todos estejam pensando no sucesso, nos projetos pessoais, nas conquistas materiais e profissionais etc., e eu penso que mais uma vez abordarei na próxima sessão de terapia a solidão infinita que sinto em meu coração. Penso na minha última paixão (que não vejo há mais de um ano), penso nos paqueras virtuais da época da pandemia e só concluo que esses amores e esses tempos nunca foram tão líquidos.(Também penso o quando usar "paquera" é datado e deixo rolar). Sinto saudades inclusive de quando eu estava apaixonado e ao olhar pra você, meus olhos sorriam espontaneamente e o que eu sentia receber em troca era um olhar de "até gosto de você". Relembro que em 2002 escrevi um poema chamado "Ventos de agosto" e ele projetava que eu estaria sozinho, no futuro. E aqui estou, sozinho no futuro. Ele foi escrito quando eu tive minha primeira paixão e, portanto, quando atravessava a linha da psicose pela primeira vez. Hoje é um arquivo esquecido no meu HD. Ironicamente, estou novamente em agosto, dezoito anos depois. E a premonição embutida em algum verso daquele poema se confirma, estou sozinho. Faz frio. A casa está em silêncio. A pandemia deixou um buraco nas relações. A TV perdeu a graça. Meus livros novos estão todos fechados. Talvez sofre o futuro eu prefira pensar, simbolicamente, na lagarta e na borboleta. E que agora eu estou na fase do casulo.</font><div><font face="arial"><br /></font></div><div><font face="arial">Ariranha - SP</font></div><div><font face="arial">02/08/2020</font></div><div><font face="arial">02h10 </font></div>RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-67102315319204998872020-03-29T13:39:00.002-07:002020-04-23T11:00:00.986-07:00Aluga-seAs coisas não estão indo muito bem para ninguém. Uma pandemia, nunca vista pela grande maioria das pessoas vivas, hoje, assola o mundo. Cada um vai se protegendo e distraindo dentro de seu alcance. Bom, eu continuo sozinho, mas percebo ter mais traquejo como sentimentalidades: converso com um aqui, com outro lá. Tem gente linda, tem atraente, tem sensual, tem profundo. Em cada tipo, um pouco de mim; em casa caso, um pouco de acaso e esperança. Sim, eu desenvolvi a possibilidade de crescer afetivamente.<br />
<br />
Mas algo hoje me remeteu a um "museu de grandes novidades", plagiando Cazuza. Eu não tive uma recaída por você, "paixão de 2019". Não, o luto aconteceu e os problemas finais permanecerão irresolvíveis. Sem me dar conta, hoje passei em frente à casa que você morava e senti um aperto no peito (isso é muito comum para os cardíacos, os de grande sensibilidade e para quem gosta de brincar com as palavras). E o que eu vi na sua casa? Apenas muita poeira, uma garagem vazia e uma placa de "aluga-se". Não deu tempo de te dizer pessoalmente, adeus!<br />
<br />
31/03/2020<br />
<br />
17h39RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-30833259698060431802020-02-26T05:28:00.002-08:002020-02-27T08:09:53.761-08:003Certa vez, delírios e alucinações me tomaram em uma paixão. Nada do que senti eu conseguiria descrever sem pensar em incoerência. Nunca saberei se fui correspondido nem se você tinha todas aquelas qualidades que eu enxergava, afinal, a insanidade toma a mente na psicose. Paguei o preço por me apaixonar pela pessoa errada: você era uma mistura de fúria e indiferença e eu nunca entenderei se o que você me disse era tudo mentira. Minhas considerações finais é que essa época foi a mais distante que eu cheguei do amor verdadeiro. Foi justamente nessa louca paixão e nessa psicose que fiquei cego para seus comentários maldosos e os risos débeis dessas hienas que te seguem (ou que você segue). Mas não sinto ódio. Se a mim fosse dada a chance de te reencontrar, eu tentaria te conduzir para uma vida menos obscura. Triste é constatar que isso parece impossível porque em você, dizem, só há narcisismo e um disfarce para seu próprio egoísmo ou baixa autoestima. Mesmo assim, eu tentaria, eu te abraçaria e perdoaria porque assim nossas caminhadas seriam mais leves.<br />
<br />
10h34<br />
<br />
26/08/2019RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-41592356785175993182020-02-17T11:33:00.002-08:002020-03-29T13:29:53.459-07:002Antes, eu escrevia disfarçando meus sentimentos. Achava uma grande bobagem o amor. Talvez, nem soubesse as diferenças entre paixão, amor e tensão. Agora que me permiti me apaixonar, tudo mudou. Já senti, em pouco tempo, todo tipo de emoção: do êxtase de estar acompanhado pela primeira vez num dia dos namorados à solidão de estar pensando em alguém no meio de uma pista de dança de uma boate. Sofri em noites em claro pensando em quem eu gostava, mas outras paixões se sucederam e aprendi um pouquinho com cada uma delas. O mais importante foi que nunca mais retrocedi. Percebo que o amor virá e depois partirá, com certa naturalidade. Talvez venha a dor, talvez eu enxergue o céu mais azul, sinta o calor mais quente. As chuvas, as tempestades e as noites frias também passarão. Eu sobreviverei porque decidi que é melhor assim, viver intensamente.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
17/02/2020 - 16h33</div>
RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2918026037192722246.post-68707710775030784562020-02-10T01:56:00.002-08:002020-02-26T05:09:31.111-08:001Eu não sei explicar com precisão como tudo aconteceu. Os quase quinze anos sem me apaixonar, a busca pelo autoconhecimento e, enfim, a abertura do meu lado emocional. De repente, alguém entrou e se hospedou em meu coração como há anos não acontecia. E foi difícil. E não fui correspondido. E idealizei. E sonhei alto. Um hora, tudo rumou para um fim natural. Tive medo de me fechar de novo por mais uma década e meia, mas, felizmente, isso não aconteceu. Pequenas paixões se sucederam e eu sobrevivi a todas elas. Se hoje me sinto apaixonado é porque, antes de tudo, eu passei a gostar de mais de mim mesmo e a me achar uma boa companhia. Também mudei a forma de entender o conceito de estar sozinho: não seria solitude? Hoje penso que tudo pode dar certo, que tudo pode dar errado, mas que minha parte eu estou fazendo, sigo tentando. E na solitude, continuo aberto.RIVAhttp://www.blogger.com/profile/02786487925192447291noreply@blogger.com0